Rami Saari | Do livro Quanta, quanta guerra, 2002
Voltei à casa árabe de que gostava
para mergulhar de novo na paisagem da estranheza,
para conhecer a qualidade das consoantes
dessa língua quente que geme.
Vim pelo caminho da lua e da areia
para ficar sozinho como uma nuvem
no céu azul do idioma.
Na casa árabe isolada de que gostava,
assaltou-me o kitsch vindo de todos os cantos
em altos berros, amargos e doces,
que embotaram os meus sentidos como uma droga.
Disseste que não estávamos sós,
que a solidão estava sempre conosco,
e por baixo da imagem da Mãe de Deus,
mostraste, com hesitação, a fotografia da tua noiva:
bela, também com pudor, abrindo-se,
jovial e colorida como uma rubéola.
Descansamos tomando café e sonhos,
voamos em anéis de fumo e boda
e por tanta tristeza em cada lugar,
por tanta riqueza em cada idioma,
a minha própria felicidade, ó língua,
ainda não a encontrei em parte nenhuma.
“Quatro cinco um”, 1.2.2023
PORTUGUESE POETRY translated by Saari to Hebrew
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