Rami Saari | Do livro Homens na encruzilhada, 1991
O meu avô deixou a Polônia em 1937,
ao fugir dos cavaleiros do Mal.
O meu pai deixou a Romênia em 1946,
ao escapar de guerra e frio.
A minha mãe deixou a Argentina em 1961,
ao fugir do grande amor.
E em 1982, deixou-me Petah Tikvá
para viver a Finlândia, a Grécia e a Hungria:
calar-me nas neves, estremecer com os terremotos
e ser arrastado pelo Danúbio até às portas do inferno.
Algo antecedeu tudo isso, mas agora
é tarde demais para clarificar os acontecimentos.
Não obstante o conhecimento das causas
e a compreensão dos motivos –
prosseguirá a frenética viagem. Tal é a sentença:
Ser fugitivo do confronto com os efeitos da negação,
saber que alguma vez vão mudar os exércitos e os regimes,
mas a palavra ficará para sempre –
ficará no anseio pela beleza,
diluir-se-á na recordação do caminho.
E não terei um filho, não nascerá um filho a Caim.
O sêmen de Sem vagueia pelo mundo sem nome,
e o seu corpo é o seu lar.
“Quatro cinco um”, 1.2.2023
PORTUGUESE POETRY translated by Saari to Hebrew
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